A Minha Terra Também faz parte da História do Brasil (parte)

Capitania de São Tomé
Aqui começa a nossa história!


A nossa história, a historia da colonização de nosso território, a história de São Francisco de Itabapoana, que também faz parte da história do Brasil, começa com a história da Capitania de São Tomé.
Apesar de haver divergências entre os historiadores quanto à localização exata da “Vila da Rainha”, e certamente elas continuarão a existir, conclui-se, no entanto que o mais provável é que tenha sido exactamente nas proximidades do Rio Managé, (hoje Itabapoana), o exato local de sua edificação; pois os únicos documentos autênticos da época, que fazem referência a Vila da Rainha, dão por assim entender; são duas cartas de Pero de Góis enviadas a Martin Ferreira, seu sócio, em 18 de agosto de 1545 e ao Rei de Portugal D. João III em 29 de abril de 1546, com o seguinte teor: “Fiqua o primeiro engenho daugoa com oitocentas braças de três levadas de palmos sos em largo e três em fundo por terra muito chãa e sem trabalho e trazem na á borda do Rio sobre hum outeiro...digo que isto neste próprio rio de Manajé donde estou o qual vem nelle dar outros rios... desta sua vyla da Rainha oje 18 de agosto de 1545.”
Também assim entenderam os historiadores Fernando José Martins ‘seu descobrimento e primitiva fundação prende-se ao tempo do estabelecimento de Pero de Góis, pois que a mui poucas braças da barra deste rio para o sul fundou aquelle capitão a primeira povoação de sua capitania’ “História do Descobrimento e Povoação de São João da Barra e Campos dos Goytacazes” em 1868; Alberto Lamego, quando escreveu ‘a poucas braças ao sul do Rio Managé’ “Terra Goitacá” em 1913; Alberto Ribeiro Lamego, “O Homem e o Brejo”, em 1945 ao dizer que o donatário ‘em 1538 finca esteios do primeiro vilarejo ao sul de Barra do Itabapoana’, e João Oscar em “Apontamentos para a História de São João da Barra” em 1976.
Já Vicente do Salvador, “História do Brasil” diz que Pero de Góis foi tomar posse de sua capitania, com uma boa frota, que fez em Portugal á sua custa, bem fornecida de gente e todo o necessário, e no chamado rio Paraíba, que está em vinte e um graus e dois terços, se fortificou e fez uma povoação.
Assim ainda descreve o Fr. Vicente sobre a capitania” ... No distrito desta terra e Capitania cá he a terra dos Aitacazes, que he toda baixa, e alagada, onde estes Gentios vivem mais á maneira de homens marinhos, que terrestres; e assim nunca se poderão conquistar, posto que a isso farão... por que quando se há de vir ás mãos com elles, metem-se dentro das lagoas, onde não há entral-os a pé nem a cavallo, são grande fúzios e nadadores, e a braços tomão o peixe ainda que sejão tubarões, pêra os quaes levão em huma mão hum pau de palmo pouco mais, ou menos, que lhes metem na boca direito, e como o tubarão fique com a boca aberta, que a não pode serrar com o pau, com a outra mão lhe tirão por ella as entranhas, e com ellas a vida, e o levão para a terra não tanto pêra os comerem, como pêra dos dentes fazerem as pontas das suas frechas, que são peçonhentas e mortíferas, e pêra provarem forças e ligeireza, como também dizem que as provão com os veados nas Campinas, tomando-os a cosso, e ainda com onças e outros ferozes animais...”
Revela ainda o Fr. Vicente do Salvador, que durante os dois primeiros anos tudo ocorreu muito bem. “... e depois se lhe levantou o Gentio, e o teve em guerra cinco ou seis annos...”
Gabriel Soares escrevendo <> diz: “São concordes o Major Fernando José Martins e Dr. Cezar Augusto Marques, que no lugar chamado Campo, entre a ponta de Manguinhos e o rio Itabapoana, perto da ponta do Retiro se acharam vestígios de antiga povação...O que fez com que pero de Góis ali levantado uma engenhoca e uma capela, que icaam depois abandonadas...”

D.João III, rei de Portugal, entregou a Pero de Góis a Capitania de São Tomé ou Paraíba do Sul, por Alvará de 10 de março de 1534 e por Carta de Doação de 29 de fevereiro de 1536, atendendo a um pedido pessoal de Martim Afonso de Sousa, seu leal assessor no Brasil.
A Capitania correspondia a um lote de 30 léguas de largura que se iniciava ao sul da foz do rio Itapemirim e se prolongava até a foz do rio Macaé, limitando-se por um lado com a Capitania do Espírito Santo e por outro com a Capitania de São Vicente.
Foi este o último lote doado pela Coroa Portuguesa, ficando definido o nome dos 12 donatários, representantes do Rei de Portugal na Colônia.
Termos das Cartas de Doação e Foral:
Dom João III, por graça de Deus rei de Portugal e dos Algarves d’aquém e d’além mar, África senhor de Guiné e da conquista, navegação, comércio da Ethyopia, Arábia, Pérsia e da Índia, etc. A quantos esta minha carta virem, faço saber que eu fiz ora doação a mercê a Pero de Góis, fidalgo da minha casa, para elle e todos os seus filhos, netos herdeiros e sucessores, de juro e herdade para sempre, da capitania de 30 leguas de costa das minhas terras do Brasil, segundo mais inteiramente é conteúdo e declarado nesta minha carta de doação que da dita terra lhe tenho passado, e por ser muito necessário haver foral de direitos, foros e tributos, e cousas que na dita terra hão de pagar, assim do que a mim e a coroa dos meus reinos pertencem aos ditos capitães por bem de suas ditas doações, eu havendo respeito á qualidade da dita terra e a ora novamente ir morar e povoar e por folgar de lhe fazer mercê houve por bem de mandar ordenar e fazer o dito foral na fórma e maneira seguinte: ...
De posse dos diplomas legais, Pero de Góis, saiu de Portugal, com a frota que conseguiu preparar, após se recuperar dos ferimentos recebidos na batalha para tomar Iguape e prender o bacharel da Cananéia, quando acompanhara Martim Afonso de Souza ao longo de toda expedição, prestando inúmeros serviços a Coroa Portuguesa lutando contra os invasores, construindo engenhos e contribuindo para o sucesso da expedição colonizadora.
Autorizado assim e prevendo d’antemão um futuro repleto de riquezas e poderio, mesmo com os poucos recursos que tinha, chegou em São Vicente e de lá partiu em companhia do seu amigo Martim Garcia, juntamente com Luiz de Góis, seu irmão, e outros membros da família, alguns colonos para os sertões ainda inexplorados e fundar em 1538 uma povoação, o que fez nas proximidades do Rio Itabapoana, naquela época, denominado de Managé, e segundo o historiador Fernando José Martins, também conhecido como rio Reritigbá, (nome dos indígenas). O que acredito ser um equívoco do historiador, tendo em vista que em todas as pesquisas que fiz, não pude ver confirmada esta informação, sendo reritigbá nome de outro rio que fica no Espírito Santo.
Depois de explorar toda a costa de sua capitania, resolveu Pero de Góis desembarcar na enseada do Retiro, a poucas braças ao sul da Barra do Itabapoana, lugar elevado até a praia do mar extremamente aprazível, que de toda extensão de sua capitania considerou aquele o lugar mais apropriado ao fim a que se propunha.
Rememorando aqui que a sua capitania iniciava na foz do rio Itapemirim indo até ao Rio Macaé.
Edificada a Vila, formada por casebres de taipa e levantando a capela de Santa Cataria, (conseqüentemente o primeiro templo religioso de nosso território) a qual deu o nome de Vila da Rainha em homenagem a Rainha Catarina, mulher de D. João III, Pero de Góis que havia trazido de São Vicente cabeças de gado e mudas de cana-de-açúcar, iniciou as plantações, sendo certo se tratar das primeiras das terras do atual Estado do Rio de Janeiro.
Após percorrer extensões de terra e insalubres brejais, a maioria dos homens que vieram com o donatário adoecera de febre palustre, retardando os trabalhos de plantio, preparação da terra e construção do engenho para industrialização do açúcar, meta a ser atingida.
Toda essa região, naquela época, além dos brejais, de um matagal bravio e espesso era tomada por densa mata, que dificultava a caminhada e exploração da terra. Em um trecho da Carta de Pero de Góis ao Rei de Portugal, dizia ele: “as quais em andar andei perto de dois meses, por a terra ser cheia de arvoredos”.
Além de todas as dificuldades naturais a serem enfrentadas para desenvolver a sua capitania; uma outra iria trazer ao donatário sérios problemas, pois a sua capitania estava localizada justamente em pleno território tribal dos Goytacazes, que eram uma das únicas nações indígenas da costa do Brasil que não pertenciam ao grupo lingüístico tupi-guarani, que junto com seus vizinhos, os ferozes Aimorés ou Botocudos tinham resistido à invasão Tupi do litoral brasileiro. Tendo ainda a presença constante e preocupante dos andantes Puris, cuja prática a antropofagia foi relatada pelo historiador Saint-Hilaire. “Quando esses Índios matam algum inimigo saboreiam sua carne como se fosse um manjar delicado...”

“Os selvagens da grande família chamada “puris” se dividem em várias tribos, constantemente em guerra. O nome genérico da nação, ”puri”, tem sua origem na língua dos Coroados, e quer dizer audaz ou bandido.
Esse nome insultante foi-lhes dado pelos Coroados (antigos Goitacazes) por causa da guerra contínua que lhes moviam.”
Os ferozes Índios Botocudos ou Aimorés
“Os Botocudos descendem dos antigos Aimorés, da raça dos Tapuias (botocudos ou puris). Edgereck-mung é o nome verdadeiro na sua própria língua”.
Botocudos, foi o nome que os portugueses deram a estes silvícolas por causa da forma de pedaços de madeira introduzidas nas orelhas e lábio inferior.
Esta raça de selvagens foi sempre considerada a mais feroz e a mais terrível entre os Tapuias.”
Apesar dos poucos recursos que dispunha e das incontáveis dificuldades imposta pela natureza, razão do desânimo dos colonos, Pero de Góis, era um guerreiro nato; incansável, notabilizado pela bravura e capacidade de comando, sendo considerado de grande tenacidade e perseverante, estava determinado a vencer todos os obstáculos, e a sua pertinácia e o seu esforço acirrava a ambição dos colonos o que permitiu avançar pelas terras dentro, abrindo caminhos e fazendo novas plantações.
Em 14/08/1539, depois de instalada a sua capitania, foi que assentou os limites da Capitania de São Tomé com a Capitania do Espírito Santo de Vasco Fernandes Coutinho, tendo com ele se reunido e de forma amistosa e de comum acordo definido os limites entre os dois lotes.
Estava convencido Pero de Góis de que obteria o sucesso desejado, mas que dependeria de novos recursos para concretizá-lo, pois sem esses capitais não poderia industrializar a cana, a instalação de um engenho de açúcar exigia muito dinheiro, os maquinários seriam importados, em geral da Ilha da Madeira e também era preciso contratar técnicos e funcionários especializados os quais demandariam altos salários; foi quando resolveu voltar a Portugal, e assim o fez em março de 1542, e com ele seguiu seu irmão Luiz de Góis à procura de um sócio capitalista que estivesse disposto a investir na implantação da indústria açucareira, deixando a responsabilidade de administrar a capitania com o seu lugar-tenente Jorge Martins.
Em Portugal Pero de Góis conseguiu convencer a entrar no negócio o mercador de ferragens Martim Ferreira que era um cristão novo disposto a aplicar uma certa quantia para desenvolver a indústria açucareira na capitania.
Enquanto Pero de Góis tratava dos negócios de interesse de sua capitania, o seu irmão Luiz de Góis tornava-se o primeiro europeu a introduzir o uso de tabaco na Europa que chamada de erva-de-fumo, era no Brasil muito usada pelos indígenas.
Ao retornar para a sua Capitania de São Tomé no final de 1543, feliz com o êxito dos entendimentos que havia feito na Capital Portuguesa e com muita disposição; trazendo ferramentas e novos colonos, certo de que com os recursos conseguidos seria possível incrementar todos os planos que tinha em mente, e que a prosperidade da capitania estava garantida, chegando na Vila da Rainha, Pero de Góis a encontrou toda destruída, devastada, abandonada pelos colonos que tinham se embrenhado nas matas, em razão do administrador Jorge Martins, que também fugiu, haver tentado durante a sua ausência, escravizar os índios para os serviços da capitania; as incursões escravagistas e os maus-tratos recebidos provocaram a revolta e o ataque dos silvícolas que destruíram tudo.
Pero de Góis diante daquele quadro triste, vendo toda sua obra destruída, pensou até em desistir, mas não podia desanimar, além do mais pensou, como pagaria o financiamento que obtivera em Lisboa.
Imediatamente deu início à dura tarefa de reconstrução, refazendo todos os planos da Vila da Rainha. Procurou de novo conquistar a simpatia dos índios e realizar novas plantações. A margem do rio Managé construiu o seu primeiro engenho, nas proximidades da Vila da Rainha.
Dirigindo-se ao Espírito Santo, dali trouxe um oficial de engenhos e “mestre do açúcar”.
Nos dois anos seguintes outros quatros engenhos e novas povoações foram erguidos, conforme relata em trecho de sua carta: “Depois de me vir e largar no Rio Paraíba nossa fazenda que fazíamos detreminei ver augoas que nesta terra onde figuo avia e Luiz de Góis ao presente estava, as quais em andar andei perto de dois meses, por a terra ser cheia de arvoredos, e os índios pouco práticos no que nós queremos nelas... Estes duos homens com outros duos que pêra isso assoldadei, vão arrotear e a fazer com os índios muita fazenda e plantar hua ilha que já tenho pelos índios roçada de canas.”
Em 18 de agosto de 1545, o donatário escreveu a seu sócio Martim Ferreira que ficara em Portugal, dando-lhe conta do empreendimento e que esperava exportar “dentro de um ano, 2000 arrobas de açúcar” e solicitou que contratasse uns vinte artífices e sessenta escravos africanos, sendo dez para os trabalhos agrícolas e cinqüenta para trabalhar nos engenhos de açúcar.
Tudo ia muito bem, a capitania progredia até que uma nova tragédia se abateu sobre ela.
No dia 31 de maio de 1535 o rei D. João III declarou as Capitanias do Brasil como território de Couto e homizio, ou seja, uma região na qual qualquer crime cometido anteriormente em outros lugares ficava prescrito e perdoado. O Brasil transformou-se assim, numa das colônias para a qual os condenados de Portugal eram enviados para cumprir degredo, e no dia 5 de outubro de 1535 o rei determinou que os degredados que antes eram enviados para as Ilhas de São Tomé e Príncipe na costa ocidental da África, passassem a vir para o Brasil. Com isto vários donatários foram forçados a receber centenas de degredados. Entre eles haviam os punidos por questões ficais; que no Brasil se dedicaram às atividades produtivas; e os condenados por outros crimes, que tinham costumes pervertidos, trazendo no próprio corpo o estigma de sua infâmia, em razão de terem sido marcados com ferro em brasa ou com orelhas cortadas, que ao chegarem ao Brasil se envolviam com a pirataria e o tráfico de escravos indígenas.
Certo dia partiu da Capitania do Espírito Santo um grupo de piratas da costa, liderados por Henrique Luiz de Espina, com o intuito de capturar e escravizar os nativos da capitania de São Tomé, tendo nesta empreitada, aprisionado alguns índios, e entre os que haviam capturado se encontrava um dos chefes e dos principais lideres Goitacá e que era muito amigo dos cristãos, tendo, no entanto Henrique Luiz Espina aproveitado desta situação e exigido um resgate para libertá-lo, que foi pago pelos indígenas, porém o corsário após receber o resgate, além de não devolver o refém como havia negociado, o entregou para uma tribo inimiga que o devorou.
Diante do grande insulto, de terem sido enganados e de tamanha traição, os Goytacazes ficaram irados e revoltados, assaltaram as povoações e os engenhos, incendiaram os canaviais e destruíram os instrumentos que lhes caiam às mãos, mataram vários colonos, destruíram inclusive as peças de artilharia, arrasando toda a capitania.
Pero de Góis por mais que tenha lutado, nada pode contra a massa de índios. Desanimado, ferido, tendo perdido um olho na refrega, viu-se de novo dissipar a esperança no sucesso de sua capitania.
É o próprio Pero de Góis quem relata toda essa tragédia ao rei D.João III, em carta datada de 29 de abril de 1546, existente no arquivo Português: “E se vieram logo a uma povoação minha pequena, que eu tinha mais feita, e estando a gente segura, fazendo suas fazendas, deram nela e mataram três homens, e os outros fugiram e queimaram os canaviais todos com a mais fazenda que havia e tomaram toda quanta artilharia havia, e deixaram tudo destruído. Indo as novas a mim, acudi com toda gente que pude e quando lá fui esta tudo destruído.”
Pobre e sem recursos, muito envergonhado pelos prejuízos que deu a aqueles que nele confiaram, e bem assim, pelos 15 anos perdidos nesta terra, retirou-se com todos os seus, para a vizinha Capitania do Espírito Santo, ali permanecendo até retornar para Portugal.
Merecia melhor sorte o donatário, muito tinha feito para conquistar a sua capitania, foi com muito trabalho e muito custo que a implantou, e a administrou com competência, enfrentando a solidão e tantas outras dificuldades.
Pero de Góis ainda retornou ao Brasil. Veio em 1548, com Thomé de Souza, de cujo Governo Geral foi capitão-mor da costa.
A capitania, no entanto ficou completamente abandonada. Somente mais tarde seu filho Gil de Góis da Silveira, no início do século seguinte, resolveu assumir a Capitania que herdara. Só que não se interessou pelo repovoamento da vila destruída nas imediações do Rio Itabapoana. Preferiu instalar-se nas margens do Rio Itapemirim.
Não se sabe muito ao certo, se Gil de Góis era mesmo filho ou neto de Pero de Góis, se havia nascido no Brasil ou em Portugal. Assim questionou o historiador Fernando José Martins. Baseando nas combinações do tempo em que Pero de Góis aportou às nossas praias e delas se retirou, com o artigo que se ler na carta de doação, da mesma capitania, feita ao visconde d’Asseca, quando diz: “e tendo nos attenção a haver Gil de Góis deixado há mais de quarenta annos para a coroa a dita capitania da Parahyba do Sul...” datada de 1674. O que deduz ter a colônia do primeiro mandatário haver perdurado mais de 70 anos. Não apenas uns poucos como faziam crer alguns historiadores. E ainda o fato de Pero de Góis nunca haver mencionado a respeito do filho.
Entretanto, todos os papéis vindos de Lisboa, nos últimos tempos da colônia; nas cartas do Visconde d’Asseca; os títulos por que ainda hoje se conhecem os lugares de Santa Catarina dos Amós, tais como a barreira de Gil de Góis e outros; assim como também o socorro pedido á capitania do Espírito Santo, tudo é feito e dirigido por Gil de Góis da Silveira, imediato herdeiro e sucessor do capitão Pero de Góes.
Sabe-se que Gil de Góis abandonou a capitania entre os anos de 1619 a 1622, por não ser possível resistir à fúria dos indígenas, entregando a Felippe IV de Castella, que então reinava Portugal todos os seus títulos e direitos, renunciando em benefício da coroa toda a posse e domínios antes adquiridos.
Assim como aconteceu a Pero de Góis, que teve a sua Vila da Rainha totalmente destruída pelos índios, se deu com Gil de Góis nas margens do rio Itapemirim, onde fundou uma vila denominada de Santa Catarina. A união dos Goytacazes e Xipotós com os ferozes Botocudos ou Aymorés, deu o derradeiro e último golpe á colônia, em razão do desfecho de um caso amoroso entre o donatário e a bela filha de um cacique em terras capixabas.
Gil de Góis, entre outros indígenas que conseguiu domesticar, acolheu uma menina, filha de um cacique de uma tribo da vizinhança, a quem batizou com o nome de Catarina. Crescendo no corpo, na idade e na beleza, tornando-se uma formosa mulher, não teve forças para resistir aos encantos da sedutora afilhada, nem tão pouco esta aos amorosos afagos do donatário. A esposa deste, D. Francisca de Aguiar Manrique percebendo, e tomada de extremo ciúme, começou a maltratar com palavras a jovem, que preocupada e não suportando as agressões, incessantemente pedia a seu amante que a levasse para outro lugar, distante de sua perseguidora, que aproveitando da ausência do marido, aprisionou-a num tronco, vingando-se com muitas chicotadas. Vítima deste bárbaro castigo a índia foge e correu para o mato em busca de seus parentes; e o estado lastimável em que apareceu diante deles, com o corpo todo ensangüentado, fez jurar vingança e guerra de morte contra aquele, no pensar da tribo, era a causa e responsável pelo martírio de sua bela conterrânea. Os índios atacaram a vila e de lá expulsou toda a colônia, que se evadiu com o socorro de Vasco Fernandes Coutinho, escapando ás cruéis vinganças e suplícios que lhes estavam destinados.
Depois deste episódio, as terras da capitania que por muitos anos ficara abandonada, passaram a ser ocupadas a partir de 1630. O que contarei mais adiante.
Quando passo pelo nosso litoral, onde se deram os acontecimentos da nossa colonização, volto o meu pensamento há aquele tempo e fico a imaginar com emoção, refletindo a imagem daqueles corajosos desbravadores, que vindos de terras distantes, aqui aportaram e lutaram para abrir os caminhos por onde tantos percorreram para que chegássemos aos dias e situação atuais.
E assim pensando, olho para um lado e para outro, e pergunto em silêncio: De qual parte vieram? Em que condições aqui chegaram? Durante quanto tempo navegaram? Exatamente em qual ponto aportaram? Por que escolheram aqui? Como foi o desembarque? Exatamente onde foi implantada a Vila?
Fico fantasiando na imaginação, toda essa região com densa mata, com aqueles matagais bravios e espessos, com todos aqueles brejais quase que intransponíveis, ainda sem caminhos e sem trilhas.
Fico a imaginar os indígenas, habitantes nativos, com suas vidas e costumes. O que sentiram quando viram os brancos chegando? Para eles invasores, e para a história; conquistadores, desbravadores e colonizadores, aportando seus navios, penetrando na terra, vestidos, armados e dizendo donos daquilo que só eles, os indígenas, conheciam, aqui viviam e até então sabiam existir.
E a batalha perdida por aquele que deu origem a esta história? Cansado, derrotado, abatido; que edificou aqui o primeiro engenho de açúcar, plantou a primeira cana-de-açúcar das terras fluminense, edificou o primeiro núcleo habitacional e marco da nossa colonização, edificou aqui a primeira igreja, nos dando hoje, o direito e orgulho de dizer; que a primeira cana de açúcar do Estado do Rio de Janeiro foi plantada aqui; na nossa terra, que está incluída na história do Brasil. Fico ainda a imaginar o sofrimento de Pero de Góis, o que teria passado, o que sentiu ao ver todo o seu sonho e trabalho completamente destruídos?

Pero de Góis
A história normalmente contempla aqueles que a fazem. Falar de Pero de Góis e resgatar a memória de quem deu início a toda uma obra que nos permite hoje esta narrativa.
Pero de Góis era um militar português, muito honrado, cavaleiro experimentado, que participou da expedição colonizadora de 1530 como auxiliar de Martim Afonso de Souza, guerreiro nato, notabilizado pela bravura e capacidade de comando, sendo considerado de grande tenacidade e perseverante.
Antes de receber por reconhecimento aos serviços prestados a Coroa Portuguesa a doação da Capitania de São Tomé, lutou muito aqui no Brasil contra os invasores espanhóis, tendo sido gravemente ferido em combate na Barra de Icapara; foi quem construiu o engenho da Madre de Deus, no sopé da serra do quilombo, às margens do rio Jurubatuba, entre outras importantes e inestimáveis ações desenvolvida em terras brasileiras. Culminando sua trajetória neste País como capitão-mor do Brasil. Tendo mais tarde renunciado ao posto e retornado a Portugal, após ter sido enviado a Santa Catarina para procurar os sobreviventes da armada de Dom Diogo de Sonabria. Em 1556 foi para as Índias com D. João Menezes, voltando pouco depois para Portugal, Em 1559, foi novamente para as Índias, desta vez acompanhando Dom Pedro Vaz de Siqueira. Faleceu em batalha. Pero de Góis, 1º colonizador e investidor do território do hoje município de São Francisco de Itabapoana é um dos vultos heróicos que não pode ser esquecido.
Os Indígenas :
Acredita-se que na região do atual Estado do Rio de Janeiro, viveram indígenas de pelo menos vinte idiomas diferentes, pertencendo quase todos a quatro grandes famílias lingüísticas (Tupi, Puri, Botocudo e Maxacali).
Os conflitos intertribais, a busca de novas terras para plantio e caças e a fuga da escravidão durante o período da colonização provocaram constantes movimentações, daí a imprecisão da localização.
Pesquisa realizada pelo programa de estudos dos povos indígenas da UERJ aponta que os Tupinikim ou Margaya localizava no litoral norte-fluminense, a família Puri nos vales do Itabapoana, a Goitacá, subdividida em quatro grupos: Goitacá-Mopi, Goitacá-Jacoritó, Goitacá-Guassu e Goitacá-Mirim nas planícies e restinga do norte-fluminense, a Botocudo (pertencente ao tronco Macro-Jê), Aymoré ou Batachoa, nos vales do rio Itabapoana.
Tudo isso atesta o que os historiadores escreveram sobre a presença e as ações desses grupos indígenas no território do hoje Município de São Francisco de Itabapoana.
Saint-Hilaire ao passar pelo território, hoje sanfranciscano, em 1818, falou sobre os constantes ataques dos índios. Conta ainda sobre a antropofagia dos Puris, e relatou sobre o caso de um negrinho do qual se apoderaram, cujo corpo foi achado, ao qual haviam arrancado pedaços que estavam em parte assados.
Outros contaram sobre as contínuas depredações em fazendas, obrigando os proprietários a abatê-los a mão armada.
O historiador Fernandes José Martins conta que em 1811, uma família inteira perecera em Barra do Itabapoana. Que constava essa infeliz família do (chefe) Manuel Ribeiro de Souza, mais quatro moças, entre filhas e companheiras de viagem, de dois moços, dos quais um também era seu filho, de nome José. Vinham a pé, e na barreira da Caculucagem, num canto a que chamam “o moitão” teve lugar ao desastroso encontro. No momento de parar a comitiva ao pé de uma fonte para dar água a dois animais condutores da bagagem, surgiram os índios, e às primeiras flechadas só escapou José e sua irmã Clara, de 16 anos de idade; que saíram correndo pela praia tentando chegar à povoação de Barra do Itabapoana.
Alguns dos agressores, deixando o lugar do conflito, seguiram por cima ao encalço dos fugitivos, que se esforçavam quanto podiam para evitar o alcance de seus mortíferos caçadores. Clara pedia ao irmão que não desanimasse e que a salvasse da morte, pois ele só por ela diminuía a carreira, não obstante conhecer perfeitamente a horrível situação em que se encontravam.
Haviam transposto já a última barreira, mas a fatalidade decidiu a sorte da desditosa donzela.
O amor filial e a idéia do suplício de seu querido pai fizeram tomar uma resolução funesta. Já quase exausta de forças, mas não desanimada da salvação, perguntara a José por seu pai, tendo este lhe respondido que todos ficaram mortos e que os únicos que poderiam viver era ele e ela; pensando que com esta resposta estaria estimulando que ela continuasse a correr. O que levou Clara a um rápido pensamento e se dirigir a José disse estas palavras: <<>>, atirando-se ao mesmo tempo às ondas. José não tendo podido evitar a desgraça, pela rapidez com que sua irmã executara a ousada e heróica resolução, continuou a carreira e olhando algumas vezes para traz, ainda a via a lutar com o gentio, que aproximando da praia atiraram várias flechas roubadoras de tão interessante existência.
José chegou à povoação; mais morto do que vivo; quando um morador local, bem como outro irmão do jovem, de nome João, que por ser menor ficara e ali se achavam, vira José entrar em desesperada carreira, noticiando a desgraçada sorte de seu pai, da irmã e dos demais companheiros de viagem.
No dia seguinte juntou-se um pequeno destacamento e com o auxílio dos pescadores seguiram para o lugar da catástrofe. O primeiro encontro foi sobre uma pedra, o corpo da desditosa Clara; tinham duas flechas que havia atravessado o coração. Depois de sepultá-la, um pouco afastado da praia, o contingente seguiu a exercitar o mesmo ato aos fragmentos dos demais corpos; e dali, rastejando até chegar à maloca dos Botocudos a fizeram dispersar com igual encarniçamento, e poucos escaparam a vingança. No local foi encontrada espetada carne humana, umas já assadas.
Em 1823 a lembrança desta desgraça, causou sérios receios à população com nova aparição dos Índios; que acabaram sendo expulsos da região, após as fracassadas tentativas de uma convivência pacífica.
No início a visão dos colonizadores portugueses sobre os índios é de estranheza e encantamento. Desde o descobrimento, conforme o relato de Caminha: “eles se espantam com a nudez, mas fascinam-se com sua inocência”. Os primeiros Jesuítas surpreende-se com o fato de que determinados grupos tupis viviam “em sossego” enquanto outros em “guerras e tropelias”. Mas tanto os religiosos como os colonos, na medida que ia conhecendo a vida de alguns povos, com seus rituais de curandeirismo e canibalismo, e ao sentir as primeiras reações ferozes à conquista portuguesa, passam a alimentar uma enorme desconfiança em relação a eles. O Padre Jesuíta Manoel da Nóbrega, classifica os índios em geral de bárbaros e defende a sua dominação para convertê-los e salvá-los. Os colonizadores desejam que eles trabalhem nas plantações. Diante desses interesses econômicos e políticos da colonização, impõe-se a submissão dos nativos de uma forma ou de outra que reagiram, enfrentando os conquistadores até a morte, fugindo para regiões distantes ou aceitando à vida das fazendas e vilas coloniais.
(Os povos da família TUPI e os da família PURI ocupavam grande extensão do Estado do Rio de Janeiro e foram os que contribuíram para a formação étnica do povo fluminense. )
Os Portugueses recorreram a três métodos para inserir o índio no processo de colonização.
O primeiro deles era a escravização pura e simples, por meio da força, normalmente empregada pelos colonos. O outro pela aculturação e destribalização, inicialmente praticada pelos Jesuítas, e depois pelas demais ordens religiosas. O terceiro buscava a integração gradual do índio como trabalhador assalariado. Durante o século XVI e início do XVII os portugueses utilizaram simultaneamente esses métodos. Pois considerava naquele instante a mão-de-obra indígena indispensável aos negócios açucareiros.
No atual município de São Francisco de Itabapoana a tentativa de escravização por parte de Jorge Martins, lugar-tenente de Pero de Góis, acabou na destruição das obras do donatário e sua derrota no enfrentamento com os índios.
Da cultura indígena no Município nos foi legado apenas nomes que identificam algumas de nossas localidades, espécies da fauna, da flora e a agricultura da mandioca.
Guaxindiba – Do Tupi (Guaxi)
Vassouras em abundância
Plantas das famílias das malváceas.
Guriri – Do Tupi (buri)
Planta da família das palmeiras. (buri-da- praia).
Coqueiro anão ou coqueiro da praia, coqueiro ornamental cujas folhas são também usadas para fabricação de cestos e balaios.
Tatagiba – Do Tupi (tata’ iwa)
Árvore de Fogo
Árvore da família das moráceas.
Madeira dura que serve para construir canoas.
Muritiba – Do Tupi (mburi’ti)
Palmeira dos brejos, carandaguaçú.
Do qual se fabrica o vinho buriti.
Imburí – Do Tupi (buri)
Coqueiro anão ou buri-da-praia
Planta da família das palmeiras muito empregado no fabrico de vassouras.
Gargaú – Do Tupi (guaru-guaru)
Barrigudinho
Peixe-miúdo.
Paraíba – Do Tupi (piraiwa)
Rio ruim; Rio que não presta à navegação.
Maniva – Do Tupi (mani’iwa)
Tolete ou folha da planta da mandioca.
Aipim – Do Tupi (ai’pi).
Mandioca Mansa.
Cuia – Do Tupi (Ku’ya)
Vaso feito do fruto (cuietê) da cueira.
Urucu – Do Tupi ( uru’ku)
Vermelho.
Fruto do urucuzeiro.
Urubu – Do Tupi (uru’bu)
Nome comum das aves da família dos catartídeos; de cabeça pelada, que se alimentam de carnes em decomposição.
Uça – Do Tupi (u’sá)
Espécie de Caranguejo, (verdadeiro).
Araçá – Do Tupi (ara’sá)
Fruto do araçazeiro.
Acará – Do Tupi (aka’rá)
Espécie de peixe.
Cajá – Do Tupi (aka’yá)
Fruto da cajazeira.
Caju – Do Tupi (aka’yu)
Fruto do cajueiro.
Cambuí – Do Tupi (kãbu’i)
Fruto do cambuizeiro.
Gambá – Do Tupi (gã’bá)
Seio Oco.
Tipiti – Do Tupi (ti’pi’ti’)
Cesto cilíndrico usado para espremer a mandioca.
Managé – Reunião do Povo.
Itabapoana – Não tem uma tradução correta, a quem diga ser “Pedra Redonda”, e outros dizem ser “Ilha de Pedra” por causa de pequenas ilhas rochosas ali existentes. Assim traduzindo: Ita – Pedra e poam ou puam - Ilha
Interessado em saber mais a respeito dos indígenas, principalmente sobre os que habitaram em nosso território, pesquisei várias obras tendo encontrado em “Índios do Brasil” de Lima Figueiredo informações sobre seus aspectos e costumes.

OS AYMORÉS – Principais representantes do ramo tapuia, possuíam uma estatura avantajada, meio agigantada: Altos e robustos. A cor da pele era mais suave do que a da generalidade do gentio. Fato que se atribui em virtude deles só andarem pelo interior da selva, praticamente não se expondo ao sol.
Possuíam o costume de depilar totalmente o corpo, raspando com uma “navalha” de taquara o cabelo da cabeça.
Pronunciavam as palavras em sons duros e roucos, que pareciam vir da parte mais profunda e recôndita do peito.
Viviam como verdadeiros animais, peregrinando pela floresta, sem casa, sem higiene, sem conforto e sem agasalho. Dormiam no chão e se por ventura chovia, procuravam, como os macacos, abrigo na copa das árvores frondosas. Tinham ojeriza pela água e, por isso, não sabiam nadar.
Alimentavam da caça, com frutos silvestres e divagavam pela mata sem qualquer preocupação com o dia de amanhã.
Talvez a guerra tenha sido a sua única preocupação e durante os combates não havia nem chefe, nem borés, nem trocanos, nem guerreiros procurando lutar frente a frente. Rastejando pela mata, como sáurios, e armando emboscadas em pequenos grupos. Se a surpresa era absoluta, venciam sempre a vitima incauta; no entanto se suspeitassem haverem sido pressentidos, embarafustavam pela mataria como veados perseguidos. Quando caiam prisioneiros recusavam o alimento e quase sempre morriam de inanição e quem sabe de saudade da vida liberta que levavam.

OS BOTOCUDOS – Habitavam as margens dos rios, eram fortes, musculosos, bem conformados, geralmente baixos, caixa torácica larga e achatada, na parte anterior, tronco alongado, mãos e pés pequenos, pernas finas.
As mulheres têm o rosto de traços duros, os seios moles e caídos, o abdômen empanzinado e proeminente, as nádegas gordíssimas e pernas esticadas como se fossem de bambu. Além de desgraciosas, eram também, infelizes. Faziam todo o trabalho da maloca e de quando em vez entravam em valentes surras.
A face masculina é alongada, com pomos salientes e supercílios acentuados.
Ambos os sexos primavam pela ausência de elementos pilosos, exceto na cabeça, onde uma guedelha basta e negra servia para compor os seus semblantes patibulares.
Apesar de tudo, esses índios se julgavam belos e para se enfeitarem um pouco, furavam as orelhas e os lábios, por onde introduziam batoques de madeira. Falavam de dentes cerrados, o que acarreta a dilatação das narinas, devido a insuficiência do ar aspirado pela boca, obrigando-os a emitir sons guturais, nasais e aspirados. A enorme beiçola dificulta-lhes a dicção.
Têm um amor paternal acentuado e sentem prazer em tratar aos seus curumins com bondade e carinho.
Parecem possuir estômagos ruminantes – agüentam a fome vários dias.

GOITACÁS – Para uns, “homem ágil” para outros, “corredores da mata” e “homens que nadam”, o certo é que habitaram essa região e deles extraíram muita história, lendas e algumas experiências.
Kuivet, em <>, descreve os Goitacazes como guerreiros em constante batalha com seus vizinhos, que não recebiam e nem negociavam com estranhos e que eram extremamente bárbaros...
Simão de Vasconcellos escrevendo <> diz: que o gentio Goitacá, não tinha pazes firmes com ninguém, que a toda pessoa que encontrava, fazia pasto de seus dentes; e era esta a melhor iguaria sua, a carne humana...
Vicente do Salvador em 20 de dezembro de 1626, ao concluir sua história do Brasil descreve os Goitacás, como fortes, robustos, altos e violentos...
Já Gabriel Soares, em 1587, <> diz que os “Goitacazes não tinham a ferocidade que diversos outros autores lhes emprestaram; eles não faziam mais que defender a terra que lhes pertencia e da qual os queriam espoliar – os índios vivendo quase exclusivamente dos produtos da pródiga natureza, não podiam compreender que fosse uma má ação, o cortar uma cana ou um cacho de bananas – para os colonos isto era um furto que merecia o mais severo castigo. E o pobre índio, que era pilhado cometendo o crime de lançar mão daquilo que julgava ser sua propriedade, por estar em terreno que de tempos imemoriais, pertencia a sua tribo, era castigado e quse sempre escravizado!”

Catequese

Do ponto de vista dos Jesuítas, a destruição da cultura indígena simbolizava o sucesso dos aldeamentos e da política inspirada por eles. Os religiosos advogavam que as aldeias; protegiam os nativos da escravidão, facilitava sua conversão e fornecia uma força auxiliar no enfrentamento contra tribos hostis, intrusos estrangeiros e escravos bêbados.
Entretanto, essa política aniquilava a identidade nativa e muitos índios preferiam enfrentar a dureza dos colonos, trabalhando com eles, do que aceitar a intromissão nos seus costumes.
Nos aldeamentos jesuíticos os nativos eram preparados para viver como cristãos. E isso significava uma imposição de outra cultura, o que violentava os aspectos fundamentais da vida e a tradição cultural dos índios.

Os Jesuítas

Os Jesuítas chegaram ao Brasil no ano de 1549, em companhia de Tomé de Souza, chefiados pelo Padre Manoel da Nóbrega, com a missão de catequizar os índios e de consolidar, através da fé, o domínio do território pela Coroa Portuguesa.
Começou a combater o cativeiro indígena e a implantar o processo de aldeamento.
Este processo conforme já foi exposto em páginas anteriores, ao mesmo tempo em que livrava o índio da escravidão, do trabalho forçado, levava-o a um outro tipo de imposição, a romper com seus costumes, com seu modo de vida, o que violentava aspectos fundamentais da sua mentalidade, como por exemplo, o trabalho na lavoura, atividade considerada exclusivamente das mulheres.
Em 1553 desembarcava no Brasil o Padre José de Anchieta, (o santo da terra brasileira, colonizador, bandeirante, educador, poeta e missionário).
Outro Jesuíta que também fez parte nesse princípio de vida brasileira foi o Padre Antônio Vieira, considerado o maior orador sacro do século XVII.
Foram fundando capelas, igrejas, escolas onde os nativos e descendentes de portugueses recebiam instrução e formação.
No ano de 1750, a Província Jesuíta no Brasil contava com 131 casas, sendo delas 17 colégios e havia 55 missões entre os índios.
Os Padres Anchieta e Manuel da Nóbrega fundaram o Colégio de São Paulo, que acabou dando origem a cidade de São Paulo e participaram ativamente da expulsão dos franceses que invadiram a Baía da Guanabara e contribuíram para a fundação da cidade do Rio de Janeiro.
Na Capitania de São Tomé, no que concerne ao território hoje pertencente ao Estado do Espírito Santo, teve os Jesuítas uma participação muito importante e por muitos anos, inclusive na fazenda Muribeca às margens do Rio de Itabapoana, só encerrando as suas atividades por força da expulsão sofrida em 1759 pelo Marques de Pombal; Primeiro Ministro de D. José I, rei de Portugal.
Não registra a historia qualquer outra participação dos Jesuítas no território do atual município de São Francisco de Itabapoana a não ser a disputa travada pela posse das terras de Manguinhos entre outras, que diziam pertence-las, por doação ou aquisição.
Como também não existe qualquer obra edificada que possa marcar a passagem e as ações que tanto desempenharam no território brasileiro.
Manoel da Nóbrega faleceu no Colégio do Rio de Janeiro, de que foi fundador e primeiro Reitor, a 18 de outubro de 1570, dia em que completava 53 anos de idade e José Anchieta, em 9 de junho de 1597, domingo, cercado por religiosos seus companheiros e discípulos, aos 63 anos de idade e 44 anos de missão no Brasil.

1 comentários:

Alexandre Mendes da Silva 12 de março de 2011 às 15:26  

Caramba, há muito tempo não acessava na net algo tão bom como o teu blog em especial a história da nossa região. Sou de Macaé, e os fatos pelo senhor explicados com relação a colonização, os detalhes da relação com os indios e etc. realmente está de parabéns. Fiquei encantado com a leitura. Se tiver algum livro que possa me recomendar sobre o assunto, ficaria muito grato


Quem Sou eu

Eu sou um caso,
um ocaso!
Eu sou um ser,
sem saber quem ser!
Eu sou uma esperança,
sem forças!
Eu sou energia,
ora cansada!
Eu sou um velho,
ora criança!
Eu sou um moço,
ora velho!
Eu sou uma luz,
ora apagada!
Eu sou tudo,
não sou nada!
Roberto P. Acruche

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