MINHA CIDADE AMADA
Roberto Pinheiro Acruche
Não foram poucas as vezes que participando de congressos,
seminários, encontros literários e outros eventos culturais, mesmo aqueles que
aconteceram dentro do Estado, que me deparei com pessoas dizendo desconhecer o
meu Município e curiosamente perguntavam: - Onde fica São Francisco de
Itabapoana? Outros queriam saber mais; indagavam sobre a cultura, a economia, a
população, os aspectos – desde o clima aos demais aspectos físicos do
território. Não me constrangia pelo fato do desconhecimento, de não saberem da
sua existência, mesmo quando este partia de uma autoridade constituída; ao
contrário, me empolgava porque surgia daí a oportunidade para falar da minha
terra; e orgulhosamente propagar a sua grandeza, a sua história, a sua vocação,
a altivez de sua gente e o coração forte do sertanejo, aquele que plantou,
resistiu todas as intempéries e construiu a base para a sua emancipação. E
começava dizendo: São Francisco de Itabapoana fica no norte do Estado do Rio de
Janeiro, na divisa com o Estado do Espírito Santo. A minha terra faz parte de
importante momento da história do Brasil, a iniciar pelo processo de
colonização; foi palco de instalação da Capitania de São Thomé; e no ano de
1538 foi fincada a sua sede nas proximidades do Rio Managé, hoje denominado de
Rio Itabapoana onde Pero de Góis instalou a Vila da Rainha, o primeiro núcleo
habitacional; edificando uma capela, moradas, casas de colonos, e após, vasta
plantação de canas de açúcar seguida da construção de engenhos para a sua
industrialização. Assim o Município ostenta o título de pioneiro regional, onde
se iniciou todo o movimento de colonização e ocupação da região norte e
noroeste fluminense, onde se plantou as primeiras canas de açúcar no Estado;
lugar em que foi construído o primeiro engenho e iniciada a indústria
açucareira regional; onde foram criados os primeiros bovinos; transitaram os
primeiros carros de bois, que tiveram um papel extremamente importante em todas
as transformações, assim como foi no Brasil, durante séculos utilizados para o
transporte de madeiras, produtos da terra, na construção de engenhos, vilas, no
estabelecimento dos primeiros domínios rurais, na exploração das riquezas
florestais, no transporte da riqueza econômica, senão até, em toda a nossa
evolução social. Com mil cento e dezessete quilômetros quadrados de extensão
territorial, magníficas praias, comprovadamente de águas de elevado índice
medicinal, que vão desde a histórica Ilha da Convivência na foz do Rio Paraíba
do Sul até a foz do Rio Itabapoana, sendo o mais extenso litoral da região. A
sua extraordinária flora (onde inclusive está situada a maior reserva de mata
atlântica de tabuleiro do Estado) está sempre surpreendendo com a descoberta de
novas e raras espécies, tal qual a fauna, rica, com um conjunto de naturezas
bastante característico com o seu meio ambiente, constituído de mar, rios,
inúmeras lagoas, magnífico manguezal (bastante preservado, medindo duzentos
quilômetros quadrados de extensão), matas, vasta planície e a sua maior
elevação o Morro do Mico com duzentos e quatro metros de altitude. A economia é
diversificada, formada pela pecuária leiteira e de corte; pesca; mineração de
areias raras (de onde é extraída a ilmenita, zirconita, rutilo e monazita); o
turismo vem se constituindo num seguimento importante no contexto; o comércio
se expande aceleradamente; pequenas unidades de produção são frequentemente
instaladas; e principalmente a agricultura, esta, bastante significativa e
variada; além da modernização, de novas técnicas de plantio que vão sendo
adotadas, mantém ainda por meio de alguns agricultores, aspectos tradicionais
herdados da determinação e coragem dos seus ascendentes, valorosos e destemidos
sertanejos. A cultura municipal é advinda da tradição indígena, dos índios
goitacás, seus primeiros habitantes; tem ainda fortes laços e inspiração com
modelos típicos da África negra, entre os quais a dança do jongo, uma das mais
ricas manifestações da cultura afro-brasileira. Originário dos batuques e
danças de roda trazidos do Congo e de Angola pelos negros cativos, dos quais
nasceram e vivem no município muitos descendentes. Outros costumes, crenças,
lendas, contos e conhecimentos, advindos dos seguimentos citados, vieram do
mesmo modo dos colonizadores como exemplo: a Folia de Reis uma festa religiosa
de suas origens e as Quadrilhas Juninas de origem européia também trazida pelos
portugueses; e mais tarde outros europeus e imigrantes libaneses que
instituíram uma expressiva colônia, formada por várias famílias que se
enraizaram por toda região, sendo as mais conhecidas: Abílio, Mansur, Acruche,
Rachid, Nasser, Alexim, Cherene, Gantos, Simões e Mayiehofer.
As tradições sanfranciscana, as pessoas que contribuíram dando
de si em favor da municipalidade, as figuras ilustres e outras que repousam em
seus berços eternos, construíram uma história bonita, que proporciona orgulho e
envaidece; cheia de lembranças e de saudades.
“Em suas noites estreladas os violeiros tocando, poetas fazendo
versos, repentistas desafiando; os bailes de sanfona, quanta alegria, que
festa, o pandeirista e o sanfoneiro formando a grande orquestra; os cordões
carnavalescos a rivalidade entre eles, a dança da Mana Chica; os navios no
porto do Itabapoana, a feira de Gargaú, a fábrica Tipity e tantas outras... São
inesquecíveis!”
Minha terra tem vocação pela grandeza, sua beleza a de sempre
resplandecer; suas praias; seus campos; sua floração colorida; a sua gente
hospitaleira e trabalhadora, com criatividade e espontaneidade natural não
param de buscar o progresso; minha terra, cada dia que passa fica mais bela, as
crianças nas escolas, a educação evoluindo, a juventude mais culta, o povo mais
feliz.
Seu pioneirismo não está somente no passado, mais ainda nos dias
atuais, passou a ostentar recentemente a instalação em seu território do primeiro
parque de geração de energia eólica do sudeste do Brasil.
Esta é a minha Cidade Amada, São Francisco de Itabapoana, onde o
sol brilha mais o ano inteiro, estrela de grandeza reluzente do Estado do Rio
de Janeiro.
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